FILOSOFIAS DA LINGUAGEM E DA LÓGICA NA ANTIGUIDADE E NA IDADE MÉDIA. FONTES E INFLUÊNCIA DA TEORIA DA ALMA EM ARISTÓTELES 347108

 

PROF. DR. GUY HAMELIN

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1. OBJETIVOS O objetivo geral da disciplina é apresentar a teoria da alma em Aristóteles no seu contexto histórico. A psicologia tratada pelo Estagirita é desenvolvida na sua divisão da filosofia consagrada à natureza ou à física (φύσις), na qual a alma é definida como forma e princípio primeiro dos seres vivos. Essa teoria difere aparentemente da dos predecessores de Aristóteles, inclusive Platão, que distingue nitidamente a alma do corpo, pelo menos uma parte dela. Aristóteles é claro quanto ao perecimento da alma no fim da vida, o que também o diferencia dos principais filósofos da época. Por outro lado, a herança do Estagirita sobre o tema foi muito importante nos séculos subsequentes, notadamente na Idade Média latina, que adaptou essa doutrina à fé cristã. Em suma, trata-se de estudar a teoria da alma de Aristóteles em relação às concepções anímicas dos seus predecessores e sucessores gregos. De maneira mais específica, submetemos a exame detalhado os três livros do De anima de Aristóteles, nos quais se encontra o essencial da concepção da alma desse autor. O primeiro inicia-se com questões gerais sobre a utilidade e a importância de estudar a alma, seguidas pelo método apropriado que deve ser usado nesse empreendimento. O resto do livro um é basicamente consagrado a uma história das doutrinas da alma, na qual se encontram uma crítica e uma apresentação de três concepções precisas da alma: a teoria da alma automotora, a teoria da alma-harmonia e a teoria da alma-número automotora e, finalmente, a teoria da alma presente em todas as coisas. É na ocasião do estudo desse primeiro livro do De anima que se torna particularmente importante a análise minuciosa das teses sobre a alma criticadas por Aristóteles. Depois de ter apresentado uma série de definições da alma, Aristóteles aborda, no livro dois, a questão da presença da alma nos diferentes seres vivos; ela não é uma exclusividade do homem. O Estagirita insiste no fato de que se trata de uma complexidade de uma alma só e não, como será interpretado por alguns filósofos nos séculos ulteriores, de uma multiplicidade de almas em um mesmo organismo vivo superior. Na continuação, encontramos uma discussão detalhada sobre a alma vegetativa e a alma sensitiva, passando em revista os diferentes sentidos e seus objetos respectivos. Enfim, no terceiro e último livro, Aristóteles expõe de início a sua ideia aparentemente original de um sexto sentido, sentido desta vez interno, antes de terminar a sua exposição da alma sensitiva, notadamente a questão da imaginação. Vem em seguida uma discussão sobre o intelecto e suas operações antes de encontrar, no final do livro, algumas reflexões sobre as principais funções da faculdade sensitiva em relação ao intelecto; trata-se essencialmente do exame da imaginação e da faculdade motriz. Enfim, as últimas partes do livro são consagradas à causa do movimento nos seres vivos e à importância dos sentidos na conservação desses mesmos organismos.

 

2 2) METODOLOGIA A estratégia pedagógica privilegiada para o desenvolvimento da disciplina envolve uma participação significativa por parte dos alunos. Já que se trata de uma atividade da Pós-graduação, cada um dos estudantes apresentará, segundo o número de inscritos, pelo menos dois seminários sobre os quinze temas expostos na seção ‘Conteúdo programático’ do programa. Por seu lado, o professor vai acompanhar, completar e dirigir o conjunto das apresentações, além de expor alguns tópicos introdutórios e conclusivos estratégicos no início e no fim da aula. Trata-se claramente de uma participação interativa e de uma implicação maior por parte dos alunos, devendo não somente preparar a sua própria exposição, mas também a dos seus colegas para seguir e interagir com eles. Encontra-se no final do programa uma lista bibliográfica que deve ser usada para entender e completar os diferentes temas em estudo, notadamente os escolhidos pelo aluno para a sua apresentação. Enfim, cada participante deve entregar, na penúltima aula, um relatório final do conjunto das atividades significativas e pertinentes realizadas para a disciplina, inclusive as leituras pessoais feitas para acompanhar os temas introdutórios e os diversos seminários.

 

3) CONTEÚDO PROGRAMÁTICO FONTES E INFLUÊNCIA DA TEORIA DA ALMA EM ARISTÓTELES INTRODUÇÃO - Elementos da teoria platônica da alma - Física, biologia e psicologia na filosofia de Aristóteles - Divisão da alma em Aristóteles I. HISTÓRIA E CRÍTICA DAS DOUTRINAS SOBRE A ALMA - De anima I. Generalidade sobre o estudo da alma; sua importância, sua utilidade e seu objeto. Dificuldade do método (I. 402a 1-403b 19). História das doutrinas sobre a alma (II. 403b 19-405b 32). Crítica da teoria da alma automotora (III. 405b 33-407b 27). A teoria da alma-harmonia e a teoria da alma-número automotora (IV. 407b 28-409a 30). A teoria da alma-harmonia e a teoria da alma-número automotora (continuação). A teoria da alma presente em todas as coisas. Unidade da alma (V. 409a 31-411b 30). II. DEFINIÇÃO DA ALMA E A ALMA SENSITIVA - De anima II. Definição da alma e justificação da definição (VI. 412a 1-414 a 28). As faculdades da alma nos diferentes seres vivos. A faculdade vegetativa ou nutritiva (VII. 414 a 29-416b 32). Faculdade sensitiva e objetos dos sentidos (VIII. 416b 33-418a 26). Os sentidos: visão e visível, audição e sons (IX. 418a 27-421a 6). Os sentidos (continuação): olfato e odor, gustação e sabor, tato e tangível (X. 421a 7-424a 15). Mecanismo geral da sensação. III. A ALMA SENSITIVA (CONTINUAÇÃO) E A ALMA INTELECTIVA - De anima III. O sexto sentido: senso comum e suas três funções (XI: 424a 16-427a 16). Pensamento, percepção e imaginação. Início do estudo sobre o intelecto (XII: 427a 17-430a 9). Estudo sobre o intelecto (continuação) e suas operações: intelecções dos compostos e dos indivisíveis. Intelecto prático. Intelecto, sentido e imaginação (XIII: 430a 10-432a 14). Faculdade motriz. Causa do movimento nos seres vivos (XIV: 432a 15-434a 21). Papel dos sentidos na conservação do ser animado. Composição do corpo animado e importância do tato (XV: 434a 22- 435b 25). 3 CONCLUSÃO - Principais semelhanças e distinções encontradas nas teorias da alma de Aristóteles e dos seus principais predecessores. - Influência da doutrina da alma de Aristóteles nos séculos ulteriores.

 

4) AVALIAÇÃO - Participação geral nas discussões em sala, inclusive a pontualidade e a presença: 30% - A suma dos seminários apresentados em sala sobre os temas do ‘Conteúdo programático’ acima mencionados. Além da exposição do assunto escolhido, a apresentação também deve incluir os seguintes elementos contextuais e históricos: descrição geral das obras dos autores antigos utilizadas, explicação da relação do tema escolhido com outros tópicos relevantes dos autores estudados e, sobretudo, indicação elucidativa das fontes e da influência do tema aristotélico selecionado. Cada exibição terá uma duração aproximativa de duas horas. Valor total: 50 % - Um relatório final acadêmico e pessoal de, no máximo, cinco páginas de texto, no qual o estudante descreve as principais atividades compridas durante o semestre em relação às aulas, inclusive às apresentações dos colegas: 20%

 

5) CRONOGRAMA 10, 17, 24 e 31 de março 7, 14 e 28 de abril 5, 12, 19, e 26 de maio 2, 9, 16 e 23 de junho

 

6) ATENDIMENTO O professor está à disposição para receber os alunos em sua sala no Departamento de Filosofia, no horário marcado com antecedência ou, simplesmente, depois das aulas.

 

7) BIBLIOGRAFIA O atual Programa, várias traduções e edições do De anima de Aristóteles, assim como as principais obras dos autores antigos em estudo, encontram-se no site: https://sites.google.com/site/profguyh/ Também estão acessíveis, no mesmo lugar, várias outras bibliografias sobre pensadores antigos, notadamente Platão e os estoicos. TEXTOS EM ESTUDO Aristote. De l’âme. Introduction, traduction, notes et lexique par J. Tricot. Paris: Librairie philosophique J. Vrin, 2010. Aristote. De l’âme. Introduction, traduction inédite, présentation, notes et bibliographie par R. Bodeüs. Paris: GF-Flammarion, 1993. Aristóteles. Acerca del alma. Introducción, traducción y notas de Tomás Calvo Martínez. S. c.: Biblioteca básica Gredos, s. a. Aristóteles. Da alma (De anima). Introdução, tradução e notas por Carlos Humberto Gomes. Lisboa: Edições 70, 2001. 4 Aristóteles. De anima. Apresentação, tradução e notas de Maria Cecília Gomes dos Reis. São Paulo: Editora 34 Ltda., 2006. Aristóteles. Sobre a alma. Tradução de Ana Maria Lóio. Revisão científica de Tomás Calvo Martinez. Lisboa: Centro de filosofia da universidade de Lisboa/Imprensa nacional-Casa da moeda, 2010. Aristotle. On the Soul. Parva Naturalia. On Breath. With an English translation by W.S. Hett. Cambridge, Massachusetts/London, England: Havard University Press, 1995. Barnes, Jonathan. Early Greek Philosophy. Translated and Edited with an Introduction. London: Penguin Books, 1987. Barnes, Jonathan. Filósofos pré-socráticos. Tradução Julio Fischer. São Paulo: Martins Fontes, 1997. Barnes, Jonathan (Ed.). The Complete Works of Aristotle. Two vol. The revised Oxford translation. Princeton: Princeton University Press, 1984. Barnes, Jonathan. The Presocratic Philosophers. London and New York: Routledge, 1979. Bonitz, Hermann. Index Aristotelicus. Secunda editio. Graz: Akademische Druck-U. Verlagsanstalt, 1955. Bornheim, Gerd A. (Org.). Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Editora Cultrix, 2001. Diogène Laërce. Vie, doctrines et sentences des philosophes illustres. 2 vol. Traduction, notice et notes par Robert Genaille. Paris: GF Flammarion, 1965. Diôgenes Laêrtios. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. Tradução do grego, introdução e notas Mário da Gama Kury. Brasília: Editora UnB, 1987. Freeman, Kathleen. Ancilla to the Pre-Socratic Philosophers. A complete translation of the Fragments in Diels Fragmente der Vorsokratiker. Cambridge/Massachusetts: Havard University Press, 1948. Inwood & Gerson. The Stoics Reader. Selected Writings and Testimonia. Translated, with an Introduction, by Brad Inwood and Lloyd P. Gerson. Indianapolis/Cambridge: Hackett Publishing Company, Inc, 2008. Ioannes ab Arnim. Stoicorum veterum fragmenta. 4 vol. Editio stereotypa editionis primae (MCMV). Stutgardiae in Aedibus B. G. Teubneri, 1964. Kirk, G.S., Raven, J.E. & M. Schofield. Os filósofos pré-socráticos. 4ª Edição. Lisboa: Fundação Colouste Gulbenkian, 1994. Legrand, G. Os pré-socráticos. Tradução de Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997. Long & Sedley. The Hellenistic Philosophers. I. Translations of The Principal Sources, with Philosophical Commentary. II. Greek and Latin Texts, with Notes and Bibliography. Cambridge: Cambridge University Press, 1987. Long & Sedley. Les philosophes hellénistiques. I. Pyrrhon. L’épicurisme. II. Les stoïciens. III. Les académiciens. La renaissance du pyrrhonisme. Traduction de J. Brunschwig et P. Pellegrin. Paris: GF Flammarion, 2001. 5 Os Pré-socráticos. Fragmentos, Doxografia e Comentários. (Col. Os pensadores). Seleção de textos e supervisão José Cavalcante de Souza. Dados biográficos Remberto Francisco Kuhnen. Traduções José Cavalcante de Souza et alii. São Paulo: Editor Victor Civita, 1996. Spinelli, Miguel. Filósofos pré-socráticos. Primeiros mestres da filosofia e da ciência grega. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998. TEXTOS RELACIONADOS Algra, K., Barnes, J., Mansfeld J. & M. Schofield (Eds). 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São Paulo: CIA Ed. Nacional, 1977. Sedley, David. The Cambridge Companion to Greek and Roman Philosophy. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.